2009/07/13

A “Tentativa de Evocar o Espírito de Joseph Beuys ao Redor Deste Espaço” e Carta à Henri-Marie Beyle.

Sexta, 10/07 na galeria vermelho o paulistano Guilherme Peters andou de skate sobre um círculo de banha animal, tendo ainda no ato a presença do feltro e o uso de um chapéu e coturno. Esta performance foi uma referencia ao artista alemão Joseph Beuys, famoso por suas performances com o mesmo material e visual.
Costuma-se dizer que a predominância de feltro e graxa na obra de Beuys é devida a um incidente ocorrido na guerra. Beuys foi alvejado e seu avião caiu durante uma missão na Criméia e ele acabou sendo resgatado por tártaros. Ele teria sido salvo ao ter sido recoberto por feltro e gordura. Não se sabe se essa história é verdadeira, mas agora ela já faz parte do mito que cerca a figura de Beuys.

Video: Malu Aguiar
A galeria tem anexado ao seu pátio um restaurante, o ‘Sal’, e eu fui jantar enquanto não começava. O restaurante tem a entrada envidraçada de frente ao local da performance.
Melhor do que assistir aos tombos do ‘artista’ foi ver a reação do público.
Dois públicos: Os que foram para ver o evento da galeria e os que foram para jantar.
Do lado de fora o público, do tipo que chega e sai com cara de entendidos, se acotovelava ao redor do círculo de banha e, aposto, cada uma das pessoas desse público ficou formulando interpretações risíveis e intelectualizadas sobre o ato.
Do lado de dentro os leigos se divertindo com o (para eles) espetáculo circense.
Minha leitura foi a de que o artista procurou – assim como Beuys em muitas das suas ações - o confronto com o limíte.

Após o evento Malu citou o comentário de uma artista européia (não guardei, nunca guardo, o nome) de que a arte contemporânea brasileira é composta por “piadas visuais”.
Dei a citação como sendo a perfeita síntese da noite.
Assim como, na política, a democracia faz eleger um número pequeno de políticos verdadeiros – pois a maioria deles é eleita por um povo incapacitado –, a arte contemporânea produz, com o seu democratismo, um número pequeno de artistas verdadeiros.
Evocaram o grande artista... mas nada de novo adveio desse chamamento e “na arte, toda repetição é nula”.
Carta à Henri-Marie Beyle:
Caro Sr., até então não havia entendido a sua síndrome, a tal “Stendhal”, sempre achei extremamente exagerada a vossa narrativa do “desassossego” ao deparar com a arte do seu tempo - o efeito do belo sobre o observador – mas compreendi que o vosso problema advinha de um tipo de arte que era voltada para a divindade (a arte de Florença), para o “belo enquanto participante do espírito... o belo produzido pelo espírito” (Hegel).
O homem comum se apavorando com o belo que é capaz de contemplar, mas incapaz de ser-lo.
Hoje a arte é voltada para o Homem - o prazer estético não é mais uma atitude espiritual - e citando Ortega y Gasset – “o característico da nova arte ...é que ela divide o público nestas duas classes de homens: os que a entendem e os que não a entendem...não é para todo mundo.. é dirigida a uma minoria especialmente dotada... O homem comum se sente terrificado, humilhado perante uma arte que não compreende.”
Terrificado deveria ficar também o artista ao ver que a sua obra é apenas para os seus pares.

Talvez cada geração mereça a arte que lhe é produzida.

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