Todos nós praticamos pequenas ações no nosso dia a dia que
são - por mais interessantes que se mostrem no momento - estéreis, áridas, banais
no curso da história. A nossa vida é, praticamente, a soma dessas ações.
Porém o acaso ou a necessidade humana em simbolizar contextos
históricos fez um dos mais poéticos e autênticos símbolos de uma revolução.
Em 25 de Abril de 1974 o restaurante Sifire, o primeiro restaurante self service em Portugal, completava um ano de existência e iria oferecer um cravo às clientes e um cálice de porto aos clientes. Como Lisboa acordou repleta de soldados organizados para depor Marcello Caetano o restaurante não abriu e os funcionários foram dispensados.
É nesse momento que a história de Celeste Caeiro é alçada
aos livros de História.
Celeste, na época com 40 anos e umas das garçonetes
do estabelecimento, levou consigo vários cravos e no caminho foi interpelada por
um soldado que lhe pediu um cigarro.
Relata Celeste anos mais tarde: "Olhei para os cravos e disse que lamentava, mas só
tinha flores. Peguei um cravo, o primeiro foi vermelho, e ele o aceitou. Como
sou assim tão pequenina e ele estava em cima do tanque, teve que esticar o
braço, agarrou o cravo e o colocou em seu fuzil”.
Imediatamente, os outros soldados imitaram seu companheiro
e pediram a Celeste um desses cravos, vermelhos e brancos, que levava sob o
braço, até distribuir todos.
O símbolo da transição do medieval “orgulhosamente sós”
para o Portugal de hoje estava cunhado na história.