2010/09/03

A FADIGA RESULTANTE DO EXISTIR

Então ele olhou para Deus (manifestado, ali, naquela figura no espelho) e, largando-se na fadiga resultante do existir, confidenciou: “Sinto muito, não deu certo”.
Eu acredito na reencarnação - novo assunto midiático – não numa maneira religiosa, mas sim como algo que fornece sentido.
Isso me dá um alento enorme, pois, sendo assim, não há urgência da perfeição imediata, da existência assertiva plena.
É astuto viver cada existência de forma mais assertiva que a anterior – evoluir -, porem, a existência é curta, extremamente curta para que a desperdicemos.
Há de se ter coragem e se auto olhar com a visão límpida - sem o embaço dos valores doutros - e analisar o Ser que se é.
Na “igreja de todos os bêbados” ** nossos piores odores são conhecidos só por nós, nossos podres interiores são segredos apenas a nós confiados, aos outros é civilizado expor o nosso melhor.
O que dá sentido à vida é ela ter um sentido.
Na medicina há uma doença denominada LER (Lesão por Esforço Repetitivo), que invalida as pessoas para a vida profissional.
A sociedade moderna está, sem ninguém se dar conta, fazendo-nos adquirir outro tipo de LER: a “Lesão por Existência Repetitiva”, que nos invalida para uma vida que valha a pena ser vivida, nos oferece uma existência sem sentido.
Citando Anah Zohar: "Somos dotados de existência temporária e de propósitos fúteis".
               ** "O banheiro é a igreja de todos os bêbados" - Cazuza

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas.
Essas e o que faz falta nelas eternamente.
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo, Cansaço…

Alvaro de Campos (F.P.)

3 comentários:

Anônimo disse...

A vida é para ser vivida e você sabe tão bem disso! E cada segundo perdido é um momento sem retorno... mesmo que a terra gire e retorne ao seu ponto de partida o segundo perdido jamais voltará...

Impressões disse...

A reencarnação é uma chance dada a pessoa para a sua evolução, evoluímos um pouco mais a cada retorno, até conseguirmos atingir a perfeição. Sabemos que o ser humano é imperfeito e por ter o livre-arbítrio muitos preferem adiar para uma nova “oportunidade” que lhe é dada.
Viver o presente, a vida que vale a pena ser vivida, mas com critérios, muitos esquecem que a reencarnação é uma dádiva, mas existe também a lei da causa e efeito, e muitos olvidam disso.
Você colocou a ilustração de Narciso, talvez queira se referir que quando estamos encarnados pensamos mais em si mesmo e muitas vezes esquecemos do que foi “previamente combinado” antes de nossa vinda.
Respondi com uma visão mais religiosa, espiritualizada, sei que seu post não se referia por esse aspecto, mas não consigo ver a reencarnação de forma diferenciada.
Devemos nos desfazer do “LER” e fazer cada existência ter sentido, sem nunca nos arrependermos de nossos atos, senão seria uma chance (existência) desperdiçada, e o objetivo é progredir sempre.
PS: Seus textos continuam com acabamento primoroso... um dia chego a esse nível...rs
Beijos!!

Impressões disse...

Muitos erros são gestados e mantidos a partir de atitudes irrefletidas, meu caro amigo. Por isso eu creio firmemente que a religião que praticamos (ou cremos) só pode ser benéfica se nos fizer refletir. Caso contrário é alienação, esquecimento da realidade.
Pe.Fábio de Melo