2009/11/14

Lars Von Trier e o seu Anticristo

Filme totalmente simbólico
O filme discute a natureza humana e a natureza da natureza.
Prólogo:
Começa com uma ária de Hendel (única musica do filme, tendo partes por toda obra) Lascia Ch'io Pianga - Deixa que eu choro (leia o texto a ouvindo).
Referencia direta ao pedido que a mulher faz: Deixa que eu choro, deixa eu curtir a dor, elaborar o luto, que eu queime o que estou sentindo.
O grito do feminino.



Lascia la spinacogli la rosa;
tu vai cercandoil tuo dolor.

Deixa o espinho Colhe a rosa;
tu vais buscando tua dor.

Durante um intenso ato de sexo uma criança desce do berço, caminha pela casa e flagra os pais. Olha para eles e percebe que a mãe o trai com o pai. Descobre que a mãe não lhe tem como o único afeto.
Segue em frente até chegar em uma janela onde se encontram três bonecos representando os três pedintes.
Salta da janela e está morta, então, a antiga relação entre ela e a mãe.
A metáfora trazida pelos três bonecos se apresenta no centro do poema de Yeats – The three Beggars - onde ele fala que as pessoas estão passando fome – “por mais que se tente não há de onde tirar o alimento – tudo o que está ao redor é lixo”.
O poema é a historia do rei que vai ao encontro dos três pedintes e ao longo do poema não se sabe mais quem é, na realidade, o necessitado, se é o rei ou se são os mendigos.
É a velha dialética onde o criado diz ao senhor... “não sei se senhor tem medo de mim ou se eu tenho medo do senhor”.
O homem tem que tirar seu sustento da natureza, para isso a sangra.
A natureza tem que sobreviver, para isso o agride.

A mãe atingida pela pior tragédia na nossa cultura, que é a perda de um filho, elabora o seu luto – Dor advinda da noção de maternidade, uma noção construída pela sociedade à muito pouco tempo.

O marido um psiquiatra, indo contra a ética profissional, passa a assisti-la e a analisar.
Ambos vão para uma cabana em um espaço chamado por eles de Éden- Éden esse com presença das folhas do carvalho não da figueira -, lugar onde ela havia tentado desenvolver, tendo o filho ao seu lado, seu trabalho de tese sobre perseguição às mulheres.
***Ginecidio – assassinato de mulheres***
Ao adentrar no Éden ele a obriga a deitar no mato, a interagir com a natureza.
A natureza da mulher e a natureza da natureza são conectadas.
A natureza é representada por um carvalho.

Durante o filme o carvalho simboliza a luta dos elementos da natureza pela sobrevivência.
O carvalho é uma arvore isolada, expande as suas raízes ao longo de uma grande área para retirar energia de outros carvalhos que por ali tentem se desenvolver.
O carvalho que joga bolotas a todo o momento
O carvalho – no filme - contamina a mão do homem
O carvalho se defende, anula o seu redor para ser dominador do espaço
O carvalho quase que eterniza sua existência,
Representação da maldade da natureza.
A natureza não é mais o Éden original.

“A natureza é a igreja de Satã” – brada a personagem mais tarde. Não devemos subestimar o Éden.
Já a natureza humana é retratada com olhares Hobbesianos.
Enquanto você está bem alimentado, aquecido, descansado, sem dor você é o que chamamos de bom. Basta tirar uma dessas coisas que teremos experiências similares aos chamados “sobreviventes dos Andes”.
Somos pessoas tendentes ao egoísmo.
O poema volta em forma de tríades.

Aparece nova simbologia, agora animais.
Três símbolos dos mais tradicionais que existem:
A corsa – feminino, fecundidade – a corsa grávida perdendo o seu feto, dividida entre a floresta onde ela anda e a sua gravidez.
A raposa – astucia (no cap. 18 do Príncipe a raposa é um modelo).
O corvo – faz a travessia.
É exposto que a pesquisa da mulher, no decorrer do seu convívio com a natureza no Éden, tomou um novo rumo em que teoriza que a matança de milhares de mulheres na história é decorrente de atos de defesa da sociedade defronte a natureza da mulher – que é má.
A mulher é má e o que a Europa fez ao matar milhares de mulheres nada mais foi se defender da maldade feminina.
Assim como a raposa é astuta, a mulher o é no choro:
“Atrás de uma lágrima há uma atriz”.
“O choro da mulher é uma pausa para elaborar uma estratégia melhor”.
**Sociedade é misoginia ou vítima da mulher? **
O homem é perseguido, castrado e preso a uma pedra.
O homem está castrado e impedido de fugir,
Posse absoluta.
O homem se conscientiza que para sobreviver tem que se libertar.
O homem ferido para o sempre se vê na obrigação de eliminar a moléstia.
O homem ferido para o sempre, no Éden, elimina a fêmea.

A mulher antes temerosa à Natureza, ao final conspira com ela.
O homem começa a temer a Natureza quando passa a entender a própria natureza da esposa.

A última cena da obra mostra o homem em comunhão tanto com a natureza tanto com imagens figurativas representando o feminino que passam a cercá-lo no Éden.
A natureza das coisas são soberanas
O mundo não é o caos.
O mundo não é o paraíso.
O mundo apenas é, com o bem e o mal.

IMAGENS DA OBRA: http://www.flickr.com/photos/jadorelecinema4/sets/72157622343511041/show

Uma visão pessoal da obra – uma visão minha, não o que o diretor quis dizer:
Alem dessa visáo da natureza que nos cerca (a humana e a da natureza), talvez minhas questões levaram-me a enxergar algo mais onde aponta essa nova configuração do feminino.

Dois fatos, um onde ela narra ao marido, que se mostra ignorante à rotina do filho, os novos hábitos noturnos da criança e outro de ela ter levado a criança para o Éden durante o período de desenvolvimento da tese, enquanto, possivelmente ele continuou a sua rotina sem ter que se preocupar com o filho apontam para o homem milenar com a paternidade definida em prover e proteger.

Ela, mulher moderna, interrompe a maternidade para gozar, para usufruir do seu direito de ser feliz.
Abandona o filho para retornar à condição de una.
Sacrifica a maternidade em troca do gozo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Maravilhosa, sua avaliação, cheia de poesia. Adorei

Impressões disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

O mundo não é o caos. O mundo não é o paraíso. O mundo apenas é, com o bem e o mal.
A natureza e o homem.