2009/09/22

Jones, Napoleão e o "Dia mundial sem carro".

Hoje, indo de carro para o trabalho, fiquei sabendo, negociando espaço com outras centenas de veículos, que é o “Dia mundial sem carro”.
Levando em conta que o “Ócio é a oficina do pensador” – essa não tinha ouvido antes! - aproveitei (no caminho) para meditar sobre o assunto.
Um dos poucos elementos da evolução humana a respeito do qual quase todo mundo está de acordo é que andar com duas pernas foi o evento definidor da nossa linhagem, responsável por iniciar o longo caminho até o Homo sapiens moderno.
Caminhou ereto, então, a passos largos à se tornar Homo economicus.
Não há nenhum outro produto comercial na história que tenha tido um efeito tão grande na economia e na política como o automóvel.
Maior gerador de empregos e consumo do mundo, sem antes mudarmos a configuração econômica mundial, mexer na produção de autos é dar um tiro no próprio pé.
É sabido que a transferência de tecnologia nos nossos carros de gasolina para metanol é um benefício para a saúde do planeta, mas o que quase ninguém sabe é que para a saúde do ser humano os resíduos da gasolina são menos prejudiciais.
É de interesse econômico nacional que se maximize o benefício ecológico do metanol em detrimento da saúde pública.
Até uns meses o mundo abraçava esse nobre interesse em desenvolver o metanol – Save the World. Bastou o preço do barril do petróleo desabar que os olhos para essa tecnologia foram quase que fechados.
Numa das grandes obras que apontam as utopias negativas e fazem criticas à modernidade , “A Revolução dos Bichos”, George Orwell cria personagens antagônicos – o fazendeiro Jones e seu adversário o porco supremo Napoleão, instrumentos do sistema, que fazem
, por meio do trabalho , o mundo à eles solicitado .
Ao final da história, o quadrúpede, ao chegar ao poder, se torna bípede, renegando seus antigos discursos.
Ao contrário da história de Orwell, mas tendo-a mais do que nunca como exemplo da contemporaneidade, estamos deixando de ser bípedes, de fazer cálculos mentais, de nos comunicar sem tecnologia, de nos tocar.
Somos criaturas de quatro rodas.
Resgatemos nossa condição de bípedes.

** Para isso não precisamos deixar o carro em casa (principalmente com esse transporte público)

2 comentários:

Malu Aguiar disse...

... voltemos a nossa condição original: quadrúpedes!

Impressões disse...
Este comentário foi removido pelo autor.