Começo esta nova experiência no dia em que completo 46 anos refletindo amparado em Luc Ferry e na idéia filosófica grega de que o sábio é aquele que consegue viver o presente, sem ficar constantemente submisso aos dois males que são o passado e o futuro. Quando o passado foi feliz, nós caímos em nostalgia. Quando foi sofrido, acordamos à noite com remorsos, arrependimentos e culpa. Logo nos refugiamos no futuro, tentando nos convencer de que tudo ficará melhor quando trocarmos de carro, sapato, corte de cabelo, mulher, casa... sonhamos com uma outra vida - pura ilusão. Hoje somos capazes de eleger o que nos é sacro (sagrado)... a plena felicidade está na possibilidade de escolha - individualização (sacrifício não mais pelo Estado ou pela Igreja, mas pelo indivíduo), praticar o sacrifício por alguém que se ama (companheira(o), filha(o), amigo(a)... não importa), levantar e ter por quem ir a batalha, ter sua Dulcinéia. O indivíduo é o centro do pensamento contemporâneo. O individualismo está ligado à desvinculação das tradições comunitárias que caracterizam as sociedades tradicionais. Os problemas que aparentemente são privados são na verdade as questões políticas de hoje: a dívida pública ou a repercussão do choque de civilizações tem como questão escondida atrás delas a preocupação sobre qual mundo queremos deixar para nossos filhos. Luc Ferry escreveu: "Quem ignora seu passado é tolo e quem não pensa no futuro é burro”... mas "De que amanhã se trata?”.
Faço-me aqui reconhecer.
Dou-me, e só a mim, o direito de faze-lo, pois – citando Frida Kahlo – “sou o assunto que conheço melhor”.
Indigno é aquele que desfaze da sua capacidade inata e nada transforma, que sonha voltar para o paraíso onde “tem uma vivencia isenta de conflitos... as contradições superadas e (onde) o rebanho humano poderia viver a paz, o seu sábado dos sábados.” (Will Durant)
Reconheço-me, então, um ser imperfeito – inacabado – e me aproprio do pensamento de Nietzsche: “Aquilo que eu não sou é, para mim, Deus e virtude”.