2011/06/23

UM QUIXOTE NO PACAEMBU

Por que, nós homens, ficamos tão bobos ao assistir uma partida de futebol?
Por que darmos tanta importância ao esporte?

Eu sei que sou a perfeita figura da pessoa chata que procura explicação em tudo, que não aceita simplesmente que a coisa é porque é, que olha sempre ao redor e tenta se perceber no instante.

Ontem no Pacaembu havia muita família reunida, pais que levaram suas esposas e filhos e namorados com suas namoradas a tira colo (daquelas que se produziram para ir a uma balada, que nunca tinham ido a um estádio de futebol).
Levantavam os provedores e os príncipes em questão e começavam a fazer os seus discursos (ou testemunhos) sobre as glorias dos Santos.
Falavam das batalhas e das experiências vividas, das feridas ainda não cicatrizadas, dos membros amputados – campeonatos de 1995, 2001 e 2003 – e do grande dragão que os espera (Barcelona).

O homem em sua formação animal foi constituído como caçador, como guerreiro e com a evolução da história outras funções se fizeram necessárias até que na sociedade moderna essas características são reservadas a poucos.
Poucos vão efetivamente à guerra, os remanescentes a assiste pela TV.

O Mito do Herói.

Cabe ao “homem comum” transferir para o esporte esse déficit existencial, essa lacuna quase física em seu Ser.
Uma das piores constatações foi-me revelada por Otto Rank que afirmou “Somos todos heróis ao nascer” revelando a angustia ser derivada do olhar dado no percurso entre ao que era nossa sina e o que hoje somos: “homem comum”.
O homem nasce herói, mas não faz jus, morre comum.

“Além disso, não precisamos correr sozinhos o risco da aventura, pois os heróis de todos os tempos a enfrentaram antes de nós” J.Capbell

Eu não corri o risco da guerra, mas sou um vitorioso .... vou contar para minha filha, mil vezes, batendo no peito como o Arouca se desvencilhou dos terríveis inimigos e lançou Neymar para dar o golpe mortal.
Bater no peito e glorificar o “nosso” feito.

Dulcinéia .... já vesti minha armadura ... dando início à jornada que me levará ao encotro do dragão espanhol.
Até lá, muitos moinhos de vento.

2011/06/12

A FELICIDADE TE ACOMPANHA ATÉ VOCÊ ESBARRAR COM O OUTRO

A existência não se dá sem o outro.
Toda aparição faz aparecer na situação um aspecto não desejado em mim (-Sartre-), pois faz confrontar o Eu, perfeito até então, ao Outro, aquele bárbaro repleto de diferentes conceitos  – com outro olhar, e quando se tem outro olhar, a moral também o é.

A felicidade te acompanha até a esquina, ponto em que você esbarra com o outro.
A felicidade te acompanha até o restaurante, até você perceber que o Outro levou os seus documentos.
Na semana a felicidade, na maioria das vezes, fica em casa quando saímos para trabalhar, pois sabe que, lá fora, é inevitável o confronto com o Outro – repare que, para a maioria, o momento de sair para trabalhar é angustiante e a angustia advêm da Felicidade pular fora do barco e dizer: “Vai Quixote, os dragões te esperam!”.
O Outro tem outra moral, segue outros gabaritos, nem sempre condizentes aos nossos, com outro olhar sobre ética e afins.

“O mal só pode ser vencido por outro mal” - dizem os existencialistas – porem esse pensamento é um passaporte à equiparação do Um com o Outro.
Conatus reduzido, potencia abalada no inevitável confronto com o Outro.

Uma existência valorosa só se dá na conservação do Eu, que se dá ou no confronto ou no afastamento do Outro.