Por que darmos tanta importância ao esporte?
Eu sei que sou a perfeita figura da pessoa chata que procura explicação em tudo, que não aceita simplesmente que a coisa é porque é, que olha sempre ao redor e tenta se perceber no instante.
Ontem no Pacaembu havia muita família reunida, pais que levaram suas esposas e filhos e namorados com suas namoradas a tira colo (daquelas que se produziram para ir a uma balada, que nunca tinham ido a um estádio de futebol).
Levantavam os provedores e os príncipes em questão e começavam a fazer os seus discursos (ou testemunhos) sobre as glorias dos Santos.
Falavam das batalhas e das experiências vividas, das feridas ainda não cicatrizadas, dos membros amputados – campeonatos de 1995, 2001 e 2003 – e do grande dragão que os espera (Barcelona).
O homem em sua formação animal foi constituído como caçador, como guerreiro e com a evolução da história outras funções se fizeram necessárias até que na sociedade moderna essas características são reservadas a poucos.
Poucos vão efetivamente à guerra, os remanescentes a assiste pela TV.
O Mito do Herói.
Cabe ao “homem comum” transferir para o esporte esse déficit existencial, essa lacuna quase física em seu Ser.
Uma das piores constatações foi-me revelada por Otto Rank que afirmou “Somos todos heróis ao nascer” revelando a angustia ser derivada do olhar dado no percurso entre ao que era nossa sina e o que hoje somos: “homem comum”.
O homem nasce herói, mas não faz jus, morre comum.
“Além disso, não precisamos correr sozinhos o risco da aventura, pois os heróis de todos os tempos a enfrentaram antes de nós” J.Capbell
Eu não corri o risco da guerra, mas sou um vitorioso .... vou contar para minha filha, mil vezes, batendo no peito como o Arouca se desvencilhou dos terríveis inimigos e lançou Neymar para dar o golpe mortal.
Bater no peito e glorificar o “nosso” feito.
Dulcinéia .... já vesti minha armadura ... dando início à jornada que me levará ao encotro do dragão espanhol.
Até lá, muitos moinhos de vento.