Então ele olhou para Deus (manifestado, ali, naquela figura no espelho) e, largando-se na fadiga resultante do existir, confidenciou: “Sinto muito, não deu certo”.
Eu acredito na reencarnação - novo assunto midiático – não numa maneira religiosa, mas sim como algo que fornece sentido.
Isso me dá um alento enorme, pois, sendo assim, não há urgência da perfeição imediata, da existência assertiva plena.
É astuto viver cada existência de forma mais assertiva que a anterior – evoluir -, porem, a existência é curta, extremamente curta para que a desperdicemos.
Há de se ter coragem e se auto olhar com a visão límpida - sem o embaço dos valores doutros - e analisar o Ser que se é.
Na “igreja de todos os bêbados” ** nossos piores odores são conhecidos só por nós, nossos podres interiores são segredos apenas a nós confiados, aos outros é civilizado expor o nosso melhor.
O que dá sentido à vida é ela ter um sentido.
Na medicina há uma doença denominada LER (Lesão por Esforço Repetitivo), que invalida as pessoas para a vida profissional.
A sociedade moderna está, sem ninguém se dar conta, fazendo-nos adquirir outro tipo de LER: a “Lesão por Existência Repetitiva”, que nos invalida para uma vida que valha a pena ser vivida, nos oferece uma existência sem sentido.
Citando Anah Zohar: "Somos dotados de existência temporária e de propósitos fúteis".
** "O banheiro é a igreja de todos os bêbados" - Cazuza
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas.
Essas e o que faz falta nelas eternamente.
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo, Cansaço…
Alvaro de Campos (F.P.)