2010/06/18

“O mundo está mais cego, mais burro”

Há alguns anos, Saramago em sua obra, ou melhor, como preferiu definir, em seu ensaio, expôs uma epidemia de cegueira que atinge toda a humanidade.
Mostrou quão frágil estão os valores sociais, pois onde ninguém vê, teoricamente nada aparece – valores que não mais existem, por que não mais podem ser vistos.

Descreveu as estatuas de olhos vendados na catedral em Lisboa bradando: “se os céus não vêem, que ninguém veja”.
O próprio autor já citou Dostoievski : “Se Deus não existe, então tudo é permitido”.

Um paradoxo acompanhou a vida de Saramago: ateu, muito falou de Deus e a sociedade, dependente da fé, muito mais se inquietou sobre aquilo que ele não acreditava (Deus) do que daquilo que ele cresse. 
Em sua ultima obra “Caim”, Saramago fala do personagem, de Deus (Jeová – Deus bíblico) e da Humanidade.
Caim é o Eu caminhando pelo mundo com o peso de Deus e a Humanidade é o Outro.

Foi-se Saramago, e como disse Fernando Meirelles “O mundo está mais cego, mais burro”.
                           
    "somos contos de contos contando contos, nada"
                                                                               Saramago

2010/06/03

“O homem é o único animal que carrega um cadáver por toda sua existência"; “Eu rezo para ter fé”.

O Homem é o único animal consciente da sua finitude, consciente da sua existência e, portanto, responsável por ela.
Tenho o Existencialismo como o código filosófico escolhido a seguir, o qual destaca o individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser humano.
O existencialismo considera cada homem como um ser único e mestre dos seus atos e do seu destino.
Porem não declaro “o Homem está abandonado” abdicando da possível existência de Deus, apenas digo que o Homem está por conta própria - (“The dream is over, what can I say?”).

No livro “Por que Deus não vai embora?” de Andrew Newberg e Eugene D'aquili há a questão “Deus criou o cérebro ou o cérebro criou Deus?”

Na nossa formação intelectual Marx disse que se você tem fé, você é um ser manipulado a serviço do sistema produtivo.
Depois Nietzsche declara que se você tem fé, você é um ser comum incapacitado em se tornar um alem-do-homem.
Ai Freud explica que por você não conseguir conviver com a decepção com seus pais transfere tudo isso ao Monoteísmo, que para ele é reconhecer a imagem de um pai sob a imagem de Deus.

Neste mundo pós Iluminismo, para um pensador é mais elegante a idéia de neurônio do que a de Deus.

Mas “eu rezo para ter fé” e talvez um dia eu consiga tirar um pouco do peso existencial dos ombros e transferir expectativas e responsabilidades à alguma Divindade.
A vida nos leva diariamente ao desespero, “o homem é um ratinho com fome” e é compreensível a necessidade da fé, da esperança, mas se você ama Jesus ou Allah porque tem um bom emprego, isso não é fé, é troca.
A grande fé é a de quem não quer nada em troca, ao invés de pedir, agradece.
O que chamam de fé é quase sempre feito com um olhar para o futuro e isso não é fé, é expectativa (mas com o resultado vindo doutro).

Você não pediu para nascer, você lutou para nascer!
Agora a vida vive você, não somos dono dela, ela pode nos extinguir - ela continua, quem se extingue somos nós, não ela.
Enquanto isso carreguemos o cadáver.
                        
"Surgiu-me uma luz: que Zaratustra não fale ao povo, mas a companheiros! Zaratustra não deve tornar-se pastor e cão de um rebanho! Atrair muitos para longe do rebanho... foi para isso que eu vim” Nietzsche