2010/02/28

Simpatia pelo Mestre - "manuscritos não ardem"

Sábado passado veio numa conversa “despretensiosa” o tema da existência de entidades que regulam o bem e o mal neste plano – ou seja, se há os chamados na nossa cultura Deus e o Diabo travando uma batalha pela conquista das nossas almas.

Num certo momento da conversa foram lembrados alguns fatos/mitos existentes na mídia que remetem aos chamados contratos (venda da alma) com o demo e das conseqüências/cobranças advindas deles.

Um fato emblemático é o ocorrido em 1969 em Altamont onde durante um show dos Rolling Stones um jovem foi assassinado pelos Hell´s Angels. Esse fato seria visto como uma simples tragédia (e na verdade como contraponto ao Woodstock – desvendando que na verdade não havia nada de paz e amor sob o céu), se não fosse o fato de que no momento da morte a banda tocava a maravilhosa música “Sympathy for the devil” (Simpatia pelo Diabo).

Chegamos ao ponto.
Essa música foi inspirada na obra russa “The Master and The Margarita” de Mikhail Bulgarov, um misto de realidade e fantasia, romance, comédia de costumes, crítica social e política onde se acompanha as aventuras de Lucifer e seu séquito bizarro pela Moscou dos anos 30.

Outras obras usam esse imaginário de intervenções sobre os humanos para lançarem luz (Lúcifer???) sobre objetos de indagação dos autores.

O Fausto de Goethe é “nosso mundo sob o olhar do nosso pequeno deus, um deus menor porque está em evolução, um homem de um deus maior”, no dizer de Fernando Pessoa.
A Bíblia registra as tentações que Jesus enfrentou e venceu, nos evangelhos de Mateus 4:1-11, Marcos 1:12 e 13 e Lucas 4:1-13.
Já Helena de Homero é lida por muitos como personificação e instrumento de enfraquecimento dos heróis.
Na obra de Bulgarov podemos encontrar tais referencias... Fausto e Helena.
Salman Rushdie, por sua vez, já declarou ter usado "O Mestre e Margarida" como modelo para seus "Versos Satânicos", que lhe renderam uma condenação a morte por parte dos islâmicos.

O Mestre do título nada mais é do que um alterego do autor.
Bulgákov se vê às voltas com a censura severa do regime, por conta de um romance sobre Pôncio Pilatos (a música "Pilates", do Pearl Jam, vem daí). É colocado num asilo para loucos, não sem antes ter queimado boa parte de seus escritos. A obra descreve o encontro do famoso procurador romano com Jesus de Nazaré, criando um curioso contraponto entre a Jerusalém em que cristãos eram cruelmente crucificados e Moscou do seu tempo.

“O Mestre...” foi escrito em segredo, nas sombras do período mais violento da repressão de Stálin. Num momento de paranóia, chegou a queimar uma primeira versão na lareira. A situação de medo e delírio acabou transportada para o livro, num lance claramente autobiográfico, que gerou sua frase mais famosa, dita pelo diabo em pessoa: "manuscritos não ardem".

Em um momento do livro, Margarida preside um baile faustuoso para os condenados ao Inferno. A cena, inspirou a canção "Love and Destroy", do Franz Ferdinand. Tim Burton faria um filme sensacional com ela - com todo o livro, aliás. Já Polanski escreveu sobre e nunca foi filmou. O velho Roman chegou a dizer que é a melhor coisa que ele jamais realizou.
Eu Nasci há dez mil anos atrás (Paulo Coelho e Raul Seixas) foi baseada na música homônima (I Was Born Abouth Ten Thousand Years) do folclore americano que Elvis Presley gravou, que contam a história de um viajante no espaço e no tempo, visitando grandes momentos da história da humanidade.
Esta é mesma formula que os Rolling Stones utilizaram em Sympathy for the Devil, na qual diz em um de seus trechos: “eu estive por aí durante longos e longos anos, roubando a alma e a fé dos homens. Eu estava por perto quando Jesus teve o seu momento de dúvida e de dor..” e onde Raul canta ”... eu vi Cristo ser crucificado, o amor nascer e ser assassinado...”.

Não existem obras satânicas... o bem e o mal estão dentro de nós, fazem parte de nós, nenhuma obra é desculpa para start de qualquer ação.

2010/02/09

O filosofiar do rei

“Há muito me perdi entre mil filosofias
Virei homem calado e até desconfiado
Procuro andar direito e ter os pés no chão
Mas certas coisas sempre me chamam atenção.....
Que culpa tenho eu me diga amigo meu
Será que tudo que eu gosto
É ilegal é imoral ou engorda?”

Estou na minha fase vinil, 33 rotações!
Sair um pouco da caverna, dos diálogos solitários com os livros, da racionalidade e me permitir à cinestesia ouvindo o rei Roberto Carlos.
Ir ao show do Cauby no Brahma - tudo de bom.

Simplificar a vida, desintelectualizá-la.
Simplificar as respostas para ela.

Dezenas de livros e a melhor sacada sobre as melhores coisas numa vida foi me dada pelo Roberto:
"1ª coisa é o sexo com amor,
2ª coisa é o sexo,
3ª coisa é o sorvete".
A sabedoria da resposta não está nas escolhas, é claro, mas sim no descomprometimento e na sinceridade que ela passou.
Que cada um a responda para si.
A vida é simples e prazerosa.
Que seja Ilegal, imoral ou engordante .
“E que tudo mais vá para o inferno”.