2009/09/26

"Sucesso é poder falar não"

Um sábio pode estar oculto atrás de uma imagem lasciva.
Waldemar Seyssel, ou melhor, palhaço Arrelia - como entrou em nossas vidas – deu, certa vez, como definição de sucesso a seguinte citação: “Sucesso é poder falar não”.
A frase é sim muito profunda e remete ao processo e etapas da nossa existência.
Ninguém nasce detentor do sucesso, ele é decorrente das escolhas e ações.
A existência transcorre numa seqüência de adequações entre você e mundo até o dia em que, se tiver coragem e aspiração para tal, altera essa equação, priorizando você ao mundo.
Sucesso é quando você alcança uma etapa na vida, decorrente da coragem e do auto compromisso, em que tem pleno poder de dizer “não”.
É poder dizer não às pessoas que lhe são caras.
É poder dizer não a uma ocupação em que não se queira mais estar.
É poder dizer não aos gabaritos vigentes.
Ter sucesso é ser pleno senhor das suas decisões, é, enfim, dizer não, mesmo que custe muito do conforto já instalado – do status quo adquirido.
Sucesso é poder falar não.

Julio Seyssel e Waldemar Seyssel
Para aqueles que não conseguem enxergar o valor de uma pessoa alem da imagem que ele apresenta, talvez dêem credibilidade ao Sr. Waldemar Seyssel ao saberem que seu avo paterno Julio Seyssel era um ilustre professor na Universidade Sorbonne e abdicou da vida acadêmica na França para viajar pelo mundo em um circo. Já Arrelia, digo Waldemar, renunciou a advocacia, em numa época em que ser advogado era um ofício para poucos, para ser, possuidor do seu destino, um palhaço.
Um homem de sucesso.

2009/09/24

Há de se “substituir o templo pela escola, o frade pelo professor, o devoto pelo industrial”.

"Mas os povos católicos?... Que é Portugal e quem somos nós, portugueses? Escravos duma nacionalidade exausta, com um povo devorado até aos ossos, cheio de fome, sem liberdade, fanatizado, escravizado, inconsciente, miserável... É católica a Espanha. Mas que é a Espanha? Uma nação depauperada, como nós exausta e decadente, também enferma e aviltada. O jesuitismo minou-a desde os alicerces... É católica a Itália. Mas essa só agora começa a libertar-se, fazendo substituir o templo pela escola, o frade pelo professor, o devoto pelo industrial... Isto sem sairmos da Europa, porque o mesmo acontece nas duas Américas. Pois que são o Paraguai, o Brasil, o Chile, o Equador, o México, a Bolívia, católicos, comparados com os povos do norte, protestantes? "
Tomás da Fonseca - Sermões da Montanha (1909 - excerto)
Nasceu em Laceiras (Mortágua) - 10 de Março de 1877 e morreu em Lisboa- 12 de Fevereiro de 1968. Foi perseguido, preso, dezassete dos seus livros foram proibidos pela censura fascista.

2009/09/22

Jones, Napoleão e o "Dia mundial sem carro".

Hoje, indo de carro para o trabalho, fiquei sabendo, negociando espaço com outras centenas de veículos, que é o “Dia mundial sem carro”.
Levando em conta que o “Ócio é a oficina do pensador” – essa não tinha ouvido antes! - aproveitei (no caminho) para meditar sobre o assunto.
Um dos poucos elementos da evolução humana a respeito do qual quase todo mundo está de acordo é que andar com duas pernas foi o evento definidor da nossa linhagem, responsável por iniciar o longo caminho até o Homo sapiens moderno.
Caminhou ereto, então, a passos largos à se tornar Homo economicus.
Não há nenhum outro produto comercial na história que tenha tido um efeito tão grande na economia e na política como o automóvel.
Maior gerador de empregos e consumo do mundo, sem antes mudarmos a configuração econômica mundial, mexer na produção de autos é dar um tiro no próprio pé.
É sabido que a transferência de tecnologia nos nossos carros de gasolina para metanol é um benefício para a saúde do planeta, mas o que quase ninguém sabe é que para a saúde do ser humano os resíduos da gasolina são menos prejudiciais.
É de interesse econômico nacional que se maximize o benefício ecológico do metanol em detrimento da saúde pública.
Até uns meses o mundo abraçava esse nobre interesse em desenvolver o metanol – Save the World. Bastou o preço do barril do petróleo desabar que os olhos para essa tecnologia foram quase que fechados.
Numa das grandes obras que apontam as utopias negativas e fazem criticas à modernidade , “A Revolução dos Bichos”, George Orwell cria personagens antagônicos – o fazendeiro Jones e seu adversário o porco supremo Napoleão, instrumentos do sistema, que fazem
, por meio do trabalho , o mundo à eles solicitado .
Ao final da história, o quadrúpede, ao chegar ao poder, se torna bípede, renegando seus antigos discursos.
Ao contrário da história de Orwell, mas tendo-a mais do que nunca como exemplo da contemporaneidade, estamos deixando de ser bípedes, de fazer cálculos mentais, de nos comunicar sem tecnologia, de nos tocar.
Somos criaturas de quatro rodas.
Resgatemos nossa condição de bípedes.

** Para isso não precisamos deixar o carro em casa (principalmente com esse transporte público)

2009/09/05

SOPHIE, se CALE

Esta fórmula informal, mas extremamente didática, foi me passada pelo psicanalista Luiz Alberto Hanns durante o curso “NOVAS CONFIGURAÇÕES DO FEMININO E MASCULINO” e retrata bem a carência afetiva do Ser Contemporâneo.

Fui à exposição “Cuide de você” de Sophie Calle (sophiecalle.com.br) e confesso que o que vi não me tocou.
Essa coisa do vitimismo é um entrave.... e falo sem citar gêneros.
A partir do momento que a nova sociedade optou por viver sem papéis definidos homens e mulheres empurram responsabilidades e sentimentos para baixo do tapete do outro.
O homem perdeu, com a auto-suficiência da mulher, os 3 Ps que caracterizavam a sua existência na relação (Prover, Proteger e Procriar) e astutamente usa isso para abdicar de pesos e obrigações – (hoje não raro é encontrar um homem se vitimizando pelo peso de ter que sustentar uma família).
Porem sem essas funções o homem lida com a própria perda da identidade.
A mulher “pós-moderna” é senhora do seu desejo, dona do seu corpo. Também é aquela que passou a pegar o acompanhante na casa dele, escolher o restaurante, fazer a sugestão do prato e dividir a conta – exigiu para si esses ônus. Porem ainda habita em seu interior a “Julieta medieval” que ao menor gesto insensível se vitimiza.
Frágeis são as relações – o problema não está na forma do acabar (e.mail, pombo correio, celular ou pessoalmente), o cuidado deveria estar no percurso entre o gênese e o apocalipse dela.
Depois cada um cuida de si..

O que vi não me tocou -
Sai de lá com a necessidade de ouvir Carla Bruni.